Os Srs. Silas Malafaias e os nossos ódios

Li ontem um texto de Leonardo Sakamoto que me deixou intrigada. É sobre uma entrevista da revista Época com o Pastor Silas Malafaia.

A questão que me intriga é que alguns acham que o Silas Malafaia é um lesado, um babaca, outros acham o Malafaia um exemplo.
Para mim Malafaia não é nem um babaca, nem um exemplo. Sendo difícil falar sobre o homem Malafaia, não sei nada sobre ele, sigo falando aqui sobre seu ódio. Seu ódio é o ódio de muita gente. Li recentemente de um colega de facebook que as “bichinhas” são baderneiras, criam confusão e acabam com a paz do bairro. Li recentemente no facebook uma mensagem de um primo que revoltado com a decisão de um casal de lésbicas em relação ao filho, se pronuncia contra (“só podia dar nisso”) o exercício da paternidade e maternidade por casais homossexuais. No facebook tem lugar para tudo, não? As pessoas usam as ferramentas que tem nas mãos como bem entendem. Mas, e em nós, há lugar para colegas ou familiares com suas manifestações homofóbicas, mesmo que eventuais?

O ódio do pastor é sentido por todos nós, é diferente, mas é o mesmo. Sabe aquele  ódio que sentimos por nossas vidas serem tão distantes do que gostaríamos, tão diferentes do que planejamos? Nossas vidas já não são suportáveis, tudo deu errado. Inventaram, e a gente caiu nessa, um monte de coisas para a gente ser e fazer. Inventaram o ódio. O ódio anda ajudando a sobreviver. Não há desejo, nem muito menos prática, na busca por reconhecer-se. Apenas ouvir o que se passa dentro, sem selecionar, sem segregar nada. É ódio, é amor, é raiva, é felicidade, é dor, é paixão, é vontade, é entrega… O que se passa dentro? Tudo isso passa por lá, está lá. Observando veremos que por vezes um ódio mortal de alguém aparece e depois desaparece. Observando percebemos mais do que a dureza, o peso, o ódio, por isso é importante o reconhecer-se. Penso lá “dentro” que o Malafaia é um filho da puta covarde, sem escrúpulos que compra as pessoas com seu dinheiro e poder, que se aproveita de suas carências e de suas ignorâncias, da vida fudida que elas tem, para não dar, mas, sim, tomar sua paz e consciência com uma perspectiva mentirosa de que sendo de determinada forma se tornará uma pessoa próspera e terá a vida eterna. Que grande revelação, hein? Meu Deus, não me culpe pelo ódio que sinto, o Malafaias também sente e ele é Pastor! Oh, já nem sinto mais o ódio, passou, e ainda por cima dedurei o Malafaia pra Deus! Agora que ele está ferrado nas mãos de Deus meu ódio foi embora. Mentira, até parece! Malafaia não é a causa do ódio, gays não são a causa do ódio, são os alvos. Cuidar das causas reais do ódio, por quê? Mais fácil é espancar o alvo. Culpá-lo. Exterminá-lo.

Ok, não se tratando mais de ódio, e a justiça? Para mim pode ser água e para o Pastor óleo. E quem criou estas benditas leis e ordens para que nós sejamos justos? Deus? Os gregos? O G8? Esta virtude que harmoniza, quem ditou? Esta justiça que pode vir a punir o Pastor por incitar a violência contra os LGBT’s é a mesma que trata com restrição a vida dos homossexuais.

Estamos piores com o Malafaia no mundo? O que o Malafaia tem a ver com a dignidade da condição humana? O que eu tenho a ver com a dignidade da condição humana ? É a mesma relação?  Quem ganha esta briga? Quem perde? Eu? Minha família? Meus ancestrais? Meus descendentes?

Ficamos nós, (já que tem uma palavra pra classificar) os gays,  lidando por um lado com as gracinhas que vem do ódio, as surras que vem do ódio, os silêncios que vem do ódio, a invisibilidade que vem do ódio, e, por outro lado, fazemos alianças com os que nos entendem, alimentamos o ódio por pessoas como este Sr. Malafaia, torcemos e lutamos pela aprovação, pela aceitação, pela legitimidade, por direitos iguais (quem cria os direitos sabe quanta gente exclui?), desejando não cruzar com uns outros cheios de ódios com lâmpadas fluorescentes ou com socos ingleses nas mãos, com armas, dispostos a nos assassinar.

Penso que todos os ódios e medos e as segregações e alianças, se unem como uma só coisa e nos atormentam a vida, e por vezes, toda a vida.

Me desculpem a falta de visão deste texto, talvez vocês possam me ajudar com alguma luz. Não há luz aqui no ódio.

Até!

Vivi Bezerra